quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Na rua do faz de conta
















Na rua do faz-de-conta
Fiz de conta esta cantiga
Que nada de novo conta
E nada tem que se diga
Mas se alguém lhe faz a conta
Que conte e cante e que siga
Que a rua do faz-de-conta
Faz-de-conta quanto diga.

Felipa Monteverde

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dias pertinentes

Tenho dias dispersos
de sonhos
escondidos da desgraça
que espreita
à minha beira
como poeira
dos meus versos.

Tenho dias diferentes
de todos
entre todos os meus dias
e desconheço
o sentido e o destino
tudo ignoro
desses dias pertinentes
em que escrevo os meus versos.

Tenho dias na vida
de todas as cores
e as cores da desgraça
são os meus temores
onde escondo os meus versos
para que ninguém os encontre
e
os maldiga.

Felipa Monteverde

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Amei mais do que devia

Amei mais do que devia
Esperei quem nunca veio
Tornei-me oca e vazia
Tirei a alma do seio
E entreguei-a ao vento
Para que ele ma levasse
Até ao teu pensamento
E dentro dele a deixasse.

Felipa Monteverde

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Não acredito no amor

Não acredito no amor.
O amor é como o comunismo:
a teoria é muito bonita
mas a prática não funciona,
cada um quer mandar no outro
cada um quer explorar o outro.

Felipa Monteverde

sábado, 25 de junho de 2011

O Conde das Três Marias

(adaptação de uma xácara que a minha avó me ensinou)

O conde das três Marias
O maior conde que havia
Tinha três lindas meninas
E à mais nova preferia.
A mais velha era uma rosa
A do meio um malmequer
A mais nova era uma santa
A quem o pai quis perder.
Prometia-lhe riquezas
E as terras que quisesse
Se lhe aceitasse namoro
Se a sua mão lhe desse.

Valha-me a Virgem Maria
Valham-me os Anjos do Céu
Esquece que sou sua filha
Que o pai a vida me deu?
Mandou fazer uma torre
Que parecia arranha-céus
E meteu a filha dentro
P’la recusa que lhe deu.
O pão era de oito dias
A carne muito salgada
Sete anos e um dia
Foi à sede condenada.

Sete anos se passaram
Só falta passar um dia
E a pobre se finando
Que a sede a mataria.

Viu-a a mãe penando assim
Quando espreitou à janela
E por despeito de esposa
Não sentiu pena por ela.
Deus a salve, ó minha mãe
E tenha mercê de mim
Dê-me uma sede de água
Que me estou finando assim.
Não te darei essa água
Filha minha, desgraçada
Por causa de ti, ó filha
De teu pai vivo apartada.

Viram-na as suas irmãs
Espreitando à janela
E com receio a seu pai
Nada fizeram por ela.
Deus vos salve, ó irmãs minhas
E tenha mercê de mim
Dai-me uma sede de água
Que me estou finando assim.
Não te daremos a água
Irmã nossa, tão honrada
Nosso pai nos avisou
Cruel castigo nos dava.

Dai-me água, senão morro
Implorava a infeliz;
Quem seus gemidos ouvia
Ninguém fala, ninguém diz.

Passou por ali seu pai
A ver como ela ia
Mas seu coração de pedra
Não viu que ela morria.
Deus o salve, ó meu pai
E tenha mercê de mim
Por amor d’Ele lhe peço
Um copo de água por fim.
Dava-te mais do que água
Dava o mais fino licor
Mas recusaste teu pai
Não quiseste o seu amor.

Amor de um pai queria
Mas amor de pai não tive
Que de um amor como o seu
Eu peço a Deus que me livre.

Ao ouvir estas palavras
Ainda mais se zangou
E mandou buscar a água
Que a filha lhe rogou.
Quando o criado lha trouxe
Ele à moça a mostrou
E de coração fechado
Pelo chão a derramou.

Este golpe doloroso
Não pôde mais suportar
E deixou-se adormecer
Para a morte a vir buscar.

Vieram anjos do Céu
Cobriram-na em branca veste
O pai caiu de repente
Coberto em chagas e peste.
Levam os anjos o corpo
Da filha, que foi p’rò Céu
O pai cá ficou penando
Pela morte que lhe deu.

Disse um anjo àquele pai:
A morte a santificou
E só não vais p’rò Inferno
Porque ela por ti rezou,
Mas ficarás cá na Terra
P’ra tuas penas penares
Padecerás sete anos
Vezes sete e a dobrar.
E esse pai desgraçado
Que à sede a filha matou
Ficou coberto de chagas
E a peste nele entrou.

Toda a boca era uma chaga
E a garganta também
A comida não passava
Nem a água passa bem.
Nada podia comer
Nada podia engolir
Padecia fome e sede
Sem ninguém lhe acudir.
Tantas penas padeceu
Por tempo determinado
Que implorava p’la morte
Que lhe teria agradado.

Sete anos se passaram
Vezes sete e a dobrar
O conde das três Marias
Suas penas a penar.

Toda a gente se espantava
De tanto tempo durar
Já a família morrera
Tinha ido a enterrar,
Só o conde não morria
Parecendo imortal;
Muito passava dos cem
A sofrer penoso mal.

Ao terminarem os dias
Que o anjo determinara
O conde das três Marias
Já o seu crime pagara.
Nesse dia de manhã
Rogou como costumava
Por uma sede de água
Mas a água não passava.

Viu aproximar-se a filha
A que tanto padecera
Trazia nas mãos um jarro
Por onde ninguém bebera.
Deus te salve, ó filha minha
E tenha mercê de mim
Dá-me uma sede de água
Que me estou finando assim.
Dar-lhe-ei eu desta água
Ó meu pai que me criou
Venho-lhe matar a sede
Que Deus já lhe perdoou.

Ao ouvir a voz da filha
O conde muito chorou
E pediu que o perdoasse
Do modo como a matou.
Eu lhe perdoo, meu pai
Há muito que o perdoei
Deus lhe perdoou também
Que eu por si muito rezei.
Obrigado, filha minha
Pelo perdão que me dás
É só do que eu preciso
P’ra poder morrer em paz.

Bebeu o conde do jarro
Que a filha lhe trazia
Quando acabou de beber
De sede já não sofria.
Deitou os olhos ao Céu
A filha lhe deu a mão
Ouviu os anjos cantando
Recebeu de Deus perdão
A alma foi para o Céu
Logo nessa ocasião.

Felipa Monteverde

quinta-feira, 26 de maio de 2011

(In)despedida

Tu foste embora
sem dizer adeus
e eu recordo sempre essa hora
em que morreram sonhos meus.

Tu foste embora
sem dizer porquê
e ficou-me para sempre na memória
um momento e um olhar que ninguém vê.

Tu foste embora
fugindo à despedida
e eu recordo-me sempre dessa hora
e do momento em que acabou a minha vida...

Felipa Monteverde

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Vazio

Estou vazia, estou oca
meu coração está isento de sentidos;
as palavras morrem-me na boca
e apenas se ouvem meus suspiros.

Estou vazia de anseios
de vontade de viver, cantar e rir...
apenas continuam meus receios
dentro de mim, incitando-me a partir.

Mas eu não quero ir, quero ficar
quero ter a alma cheia de vontade
de viver… mas viver a chorar
não é viver… é iludir a verdade.

E a verdade é esta, nua e crua:
eu não sou ninguém, estou oca e vazia
morri pra este mundo, só sei andar na lua
e estou acorrentada à luz do dia…

Felipa Monteverde

domingo, 3 de abril de 2011

Silêncios da vida

Silêncios da vida
que a vida contém
como sã guarida
dos sons de ninguém
são cristais tão leves
sempre ao teu redor
e apenas consegues
senti-los na dor
(quando te atreves
a calar o amor)…

(Felipa Monteverde)

domingo, 20 de março de 2011

Declaração

Não saberei sonhar sem ti,
Não saberei viver longe de ti.
Tu és o mar, o cheiro a maresia
Sabor a sal, maré vazia
Mãos dadas ao luar nas noites quentes de Verão
Em que pus a nu meu coração
Que te entreguei
E me entreguei
E juntos, tu e eu, fomos um sonho que sonhei…

Não saberei sonhar sem ti,
Não saberei viver longe de ti.
Tu vives escondido nos meus sonhos
Como aragem que me beija
Como calor de um fogo que me abraça
Como chuva que me compreende
Como tempo infinito que me conduz pela mão
Até ao dia em que te amei
Até ao tempo em que te olhava e nos teus olhos percebia
O verdadeiro sentido do amor
Do amor que eu não sabia
E nunca conhecera…
E jamais voltarei a estar contigo
Fora dos sonhos em que te escondi…

II

És pedaço de lua, caído do céu
Em sonhos de estrelas, raios de luar
Que me emprestam vidas para eu te amar
Que me enamoram e me põem ao léu
Na alma que roubam à ansiedade
Com que te espero na noite de breu
Em que a lua se esquece de me aquecer
E de me ensinar o caminho a seguir
Para não andar por onde devo ir...

Pedaço de lua que trago nos braços
Em sonhos e abraços que não quero dar
A nenhum dos ventos que me enamoram
De uns olhos cansados que quero esquecer
E me trazem perdida de amor por viver.

Não quero saber onde fiquei na vida
Onde esqueci passados que levaram certezas
Pelas ondas de um mar que nunca me aceitou
Nem deixou os meus olhos segui-lo com rezas
De espera alcançada em sonhos de Verão...

(Mas a lua emprestou à minha alma o luar
De sombras esquecidas nas noites de breu
Que envolviam em trevas o meu coração…)

Pedaço de lua, luar de Janeiro
Noites de Agosto em que espero por ti
Raios de luar que me envolvem a alma
Em esperança alcançada nos sonhos que tive
Ao sonhar a criança que fui sem saber
E que já te amava antes de nascer.

Pedaço de lua, luar de Agosto
Meu azul do mar em ondas de cetim
Envolvendo meu corpo em sonhos carmesim
Pedaços de mim que me querem matar
E me irão encontrar isolada no amor
E na esperança nascida nos sonhos sem fim
De searas de trigo e palavras gentis.

III

Azul do céu, pedaço de luar
Maré a olhar a lua a adormecer
Tu és o meu amor, és quem amarei
És quem sempre esperei em sonhos tão gentios
E em esperanças a esconder.

Azul nos teus olhos, seara de trigo
Num rosto moreno que lembra o mar
Verão de estrelas, luares e joio
De sombras e fados e noites de abrigo
Abrigando os sonhos de quem sabe amar
Nas sombras e trevas que mentem luar.

Seara, trigo loiro, maresia
És minha poesia, castigo imerecido
Pena aumentando as dores já sofridas
Em noites de espera na minha alma
Por alguém que preenchesse este vazio
Este vazio que ninguém podia preencher...

IV

Amor, amour, my love
Poderia dizer-te em várias línguas
Mas nenhuma te diria a imensidão do que eu sinto
Do que sinto por ti.

Por isso
Digo-te amor com a linguagem dos meus olhos
Com o riso do meu pensamento
Com o suave toque com que te beija a minha alma.

Amar-te é a vida que me espera quando sonho
E apenas nos meus sonhos saberás quanto te quero…

V

Foi num Verão, num dia de Verão
Num longínquo dia de calor
Que nos encontrámos
E eu disfarçei esse amor que já nascia
Que docemente penetrava no meu peito
E tomou conta do meu coração...

Foi num Verão, Verão das primaveras
Que gastei à tua espera
Que gastei e envelheci sem te saber perto de mim
Tão perto da minha alma que te quer
Que te anseia
Que te beija nos meus sonhos
Nesses sonhos em que tu e eu somos um só
Uma só alma
Um só coração
Um só pensamento
Uma só ilusão
Um jardim isolado na solidão do tempo
Em que sonhando te esperei…

VI

Sabor a sal na tua pele
Olhos de amêndoa
Lábios de mel…

Perdi-me no infinito de te amar
Sem te beijar
Sem tão só te tocar
Ventania dos meus sonhos que envolve a tua alma
E te procura
E que morre ao te encontrar
Adormecendo no teu peito
Minha noite
Sem luar…

(Felipa Monteverde)

domingo, 13 de março de 2011

Dei-te um abraço

Dei-te um abraço
dei-te um pedaço
de mim;
livre no espaço
ficou o braço
e eu vim...

Vim saber novas
procurar provas
de amor,
mas nestas trovas
que não aprovas
há dor...

Dor de sentir
que vais fugir
ao meu abraço...
e eu vou fingir
vou-me até rir
de embaraço...

(Felipa Monteverde)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A minha paixão

Hoje sinto-me apaixonada e apetece-me escrever.
Para escrever temas românticos nada como ouvir as músicas de Camilo Sexto e olhar para este lindo rosto:


E então delicio-me a ouvir o Camilo e a olhar o Hugh e nada escrevo…

Ai, o amor, o amor que nos domina
que nos prende, que cativa
e nos faz estremecer!
Sentimento arrasador
que enche o peito de dor
tão boa de se sofrer...

(Felipa Monteverde)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Quem ouve canções de amor

Canções de amor são tolice
que se cantam por aí;
foi alguém que ouviu e disse
que eu ainda as não ouvi.

Nunca ouvi sonhos cantados
em fados p'la noite fora;
meus sonhos estão acordados
e o sono não vai embora.

Vai-te embora, meu vadio
fadista, deixa o teu fado,
eu prezo muito o meu brio
e não te tenho escutado.

Quem ouve canções de amor
e acredita que são veras
não sabe em seu peito a dor
que o meu conhece deveras...

(Felipa Monteverde)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Isolamento

Nunca consegui fazer o que queria
sempre me afastaram do que eu gostava
segui a vida como uma fantasia
o meu destino é miragem que eu buscava.

Precavi-me contra todas as desgraças
ignorando o que o meu coração dizia
corri as cortinas, fechei todas as vidraças
escondi-me numa sala sempre fria.

E vivi assim, sempre escondida
sempre regeitando a aproximação
isolada do mundo e desta vida
refugiada no meu coração.

Amei quem quis, ninguém me amou
ninguém me fez feliz ou ser ditosa
e o meu coração já se cansou
de suportar espinhos e nunca ver a rosa.

E agora, quem sou? Quem vive em mim?
Uma princesa triste e atormentada,
uma mulher dócil e apaixonada
ou alguém que desconhece o meio e o fim?

Não sei, mas também não importa
serei o que calhar, o que puder
a vida é uma negra e imensa porta
fechada para quem nasceu mulher...

Felipa Monteverde

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Suspiro e dor

A noite transforma-se em suspiro
adormeço a suspirar de amor...
E de manhã de novo me transfiro
para a superfície de uma flor,
fugindo aos seus espinhos e à dor
em que te transporto e me firo…

(Felipa Monteverde)

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Trouxe ao mundo

Trouxe ao mundo a desventura
de amar sem ser amada
trouxe a traição, a loucura
a sorte da desgraçada.

Trouxe ao mundo, quando vim
toda a maldade que havia
ao redor de ti, de mim
e nessa hora nascia.

Trouxe ao mundo o que não quis
o que não quero encontrar
sou sonho tão infeliz
que ninguém o quer sonhar.

Trouxe ao mundo o que perdi
quando encontrei nesta vida
amores que conheci
numa esperança perdida.

E soube logo que havia
algo mais para trazer
do que esta melancolia
que acompanha o meu viver.

Sou triste... entristecida
por sonhos que me fugiram,
sem haver a despedida
que os meus olhos pediram.

Entristeci pela noite
em que esperei iludida
por algo como um açoite
que me marcou para a vida.

Marcou-me com o sinal
que acompanha os desgraçados
num caminho abismal
entre destinos trocados...

(Felipa Monteverde)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Não sei se iremos à fonte

Não sei se iremos à fonte
se beberemos da bica
o sabor que na boca fica
depois de a sede matar.

Fonte, bica
rio, mar
e uma lágrima que nos olhos fica
por chorar.

Não sei se iremos à fonte
não sei se está lá a bica
mas a minha sede é tanta
que a garganta já me pica.

Fonte, bica
rio, mar
e um sabor que na boca fica
a soluçar.